terça-feira, 7 de julho de 2009

ANDARILHO DA LUA



Um dia da minha vida, eu me lembro do lugar, alguém tocou o meu rosto e eu me virei e olhei em volta. Outro dia da minha vida, eu me lembro bem, alguém tocou a minha alma. Era um menino, um "molequinho" como costumamos dizer por aqui. A distância cronológica entre nossas vidas era pequena, mas as meninas teimam em crescer depressa não é?
A sua voz era a de um anjo, um anjo alegre, dançante, de asas escondidas. O seu porte era o de um gigante, dominando todos à sua volta. Ele comandava tudo e os outros tentavam seguir seus movimentos. Enquanto cantava era feliz, mas quando se calava tornava-se um anjo triste, frágil e sofrido, seus olhos não negavam. Nesses momentos ficava indefeso e era dominado e humilhado.
Quem e porquê?
A sua força incomodava muito, assustava mesmo. Cruel, mas, infelizmente humano. É costume desprezar e odiar o que não se entende. E como explicar aquele fenômeno? Como entender tanto ódio e tanta admiração por um único ser? E como ele poderia se defender de tudo isso?
Não gostavam do seu cabelo? Ele o mudava.
Não queriam o seu nariz? Ele o mudava, quantas fossem as vezes necessárias.
Sua pele? trocava também, como um camaleão, tentando se adaptar.
O espelho? Não olhava mais, não se via mais. Tudo para agradar, para servir. E, ainda assim não agradou. Desconstruiu-se enquanto forma para consolidar-se em essência. E no alto, sob os holofotes e envolto por sua música, conseguiu ser o que realmente era.
Penso que perdoou à todos. Sua grandeza era a sua marca Real e seu talento sua verdadeira herança, deixada para toda a humanidade, sem cor, sem credo e falando um único idioma, a MÚSICA.
No fim, todos se renderam a incontestável evidência de seu talento.
Hoje, me olhando através da janela, estava uma lua enorme, linda e brilhante. Pensei então:
-Deus!! Que privilégio é esse que o Sr. me concedeu! Poder comtemplar essa beleza! Obrigada!! Mas sou tão pequena diante dessa visão!
Então, a resposta me veio ao olhar mais atentamente para a lua e perceber em suas sombras que São Jorge tem um novo companheiro, além de seus fiéis cavalo e dragão. Lá estava ele, o anjo homem/menino, branco/negro, dançava flutuando com seus sapatos mágicos, sua luva e meias brilhantes.
E eu? Sorri como ele queria.
Lila Rossi *
* divulgação e/ou uso , só com citação da fonte e
com concordância do autor.

Smile: Charles Chaplin/ John Turner/ Geofrey Parsons

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